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Mané Garrincha: o jogo, agora, é o do empurra-empurra

Quanto mais se busca explicações de como se deu a transação envolvendo a renda recorde de R$ 6,9 milhões do jogo entre Santos e Flamengo, no último domingo, no novo estádio Mané Garrincha, menos se sabe. Santos, Secopa, Aoxi e a Federação Brasiliense de Futebol (FBF) insistem em fugir ao dar maiores informações. 

O que se sabe, até agora, é que o Santos ficou com R$ 800 mil pelo mando de campo, a Federação Paulista de Futebol com R$ 200 mil, a Federação Brasiliense com cerca de R$ 345 mil, o GDF com R$ 4 mil (equivalente a 25 ingressos de R$ 160) - pelo aluguel da arena - e a maior parte da renda total, de R$ 6,9 milhões, foi para a Aoxy, uma das empresas ligadas a Wagner Abrahão, homem forte do setor de turismo, envolvido em diversos escândalos com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

O que chama a atenção é que a Aoxy, de propriedade de Tuca Belotti, é uma empresa que tem apenas um ano de fundação e tem capital social de apenas R$ 100 mil. Em recente entrevista para o jornal esportivo Lance, Belotti negou que tenha comprado o jogo, disse que estaria prestando serviços para o Santos, com contrato com a Federação Brasiliense, a quem foi apresentado pela CBF. 

Despesas

Porém, em e-mail enviado ao Jornal de Brasília, o Santos afirma que  “o clube foi procurado pela empresa (Aoxy) com a proposta há cerca de dois meses. Entendeu a proposta como adequada e aceitou a proposta”. Diz ainda que não teve participação na renda e que todas as despesas do time em logística com hotel, translado, passagens teriam sido pagas pela Aoxy.

Procurada pela reportagem, a FBF mais uma vez não deu explicações. Mas um consultor da entidade explicou que a federação ficou com 5% da renda (cerca de R$ 345 mil) e teria assumido todas as despesas com segurança. Porém, esse mesmo consultor disse que a contratação de 1,6 mil seguranças ainda seria negociada com a Aoxy. 

Já a Secretaria Extraordinária da Copa informa que a  responsabilidade pelo jogo é da CBF e a arrecadação com a venda dos ingressos ficou com o Santos, dono  do mando de campo. Ressaltou, ainda, que os demais custos passagens, hospedagem, etc foram de responsabilidade da CBF. E que a FBF pagou pela segurança do estádio, instalação dos detectores de metal e limpeza.


Romário ataca “lucro fácil”


Conhecido por ser ferrenho crítico da organização da Copa do Mundo, o deputado Romário (PSB/RJ) salientou que o lucro dos donos de empresas com as grandes arenas, dedicadas à elite brasileira, é milionário. As construções favorecem, inclusive,  “alguns empresários com histórico de negociações e contratos suspeitos”, disse. Para ele, estádios como o de Brasília tendem a beneficiar uma minoria, que pretende excluir definitivamente classes menos abastadas do futebol brasileiro. 


O deputado    falou ainda sobre o possível envolvimento dos donos da empresa Aoxy, que ficou com a maior parte da receita da partida, em supostos esquemas de corrupção dentro da CBF. “Ligada ao grupo do empresário Wagner Abrahão, velho conhecido dos negócios suspeitos da CBF e que, agora, ingressa neste novo momento dos negócios do futebol para obter o lucro fácil”, declarou. 

Divisão

A partida entre Santos e Flamengo foi vendida por R$ 1 milhão. O lucro total do jogo foi de R$ 6,9 milhões. Embora recorde, a renda terá apenas uma fração destinada aos cofres do mandante. Enquanto  R$ 800 mil são a cota do Santos, outros  R$ 200 mil   vão para a Federação Paulista de Futebol, e todo o restante fica na conta da empresa Aoxy,   o retorno para o GDF do dinheiro investido no estádio continua apenas na especulação. 


“É oportuno lembrar que o senhor Abrahão já esteve ligado em outras negociatas da CBF. Agora, mesmo com Ricardo Teixeira afastado da presidência da CBF, por denúncias de corrupção, os atores de ontem continuam agindo sob nova direção, no caso com o comando de José Maria Marin. Pois são esses personagens que até hoje se mantêm no foco, sempre realizando negócios milionários com o futebol”, apontou o deputado.
  

Saiba mais

Além da receita dos mais de 60 mil ingressos colocados à disposição da torcida, os camarotes serão outra fonte de renda. A Golden Goal foi a empresa contratada para fazer a venda dos espaços VIPs do Mané Garrincha, em um acordo exclusivo para o jogo entre Santos e Flamengo.

 Há 77 camarotes na nova arena de Brasília, dos quais 66 foram   comercializados e os outros dez haviam sido separados para autoridades e patrocinadores do evento. 

Os preços variaram entre R$ 14 mil e R$ 42 mil, para 14 e 42 pessoas, respectivamente. A Golden Goal não informou com quem foi feito este contrato.


Deputadas querem explicações

Muitas coisas são nebulosas em relação o Estádio Nacional. A opinião é da deputada Celina Leão (PSD), que ontem encaminhou requerimento de informações sobre o destino da verba arrecadada no jogo ao GDF e ao Ministério Público. “A população está se questionando. Fui pessoalmente ver como está a arena e, na verdade, nem está totalmente pronta. É uma obra cara que levanta a dúvida se traz benefícios aos moradores. Mais que isso, foi feita para Brasília? Não parece”, comentou. 

Transparência

A expectativa é de que os esclarecimentos sejam feitos à deputada o quanto antes, já que até agora o GDF apenas tentou se esquivar do assunto. “Além de transparência, falta gestão da obra. Uma obra bilionária, cujo objetivo era devolver, com seus eventos, o dinheiro investido aos cofres públicos. Mas, ao contrário disso, o primeiro grande jogo mostrou que não teremos retorno da verba”, disse.

Já segundo a distrital Eliana Pedrosa (PSD), os torcedores reclamaram dos altos preços nas lanchonetes da arena. E o GDF não explicou quem é o responsável pela administração das vendas no estádio.


Dupla tem ligação íntima com a CBF


Wagner Abrahão é parceiro da CBF desde a década de 1990. Em 2001, a CPI do Futebol investigou a agência SBTR, cujo dono era o empresário. Segundo  CPI, a empresa de Abrahão praticava tabela com tarifas cheias, sem desconto, em viagens da seleção brasileira pagas pela entidade que rege o futebol.

No relatório final, os senadores mostraram que a CBF repassou R$ 31,1 milhões à SBTR em três anos, de 1998 a 2000. Segundo os senadores, não havia notas fiscais referentes às passagens compradas com a agência. Apesar da investigação da CPI, nos anos seguintes, as empresas de Abrahão continuaram trabalhando com a confederação. 

PATROCÍNIO

No ano passado, um novo escândalo. Quatro empresas de propriedade de Wagner Abrahão, também amigo do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, foram apontadas pela confederação como beneficiárias do contrato de patrocínio da seleção com a companhia aérea TAM. Pelo acordo, que teria validade até o ano da Copa do Mundo de 2014, a CBF indicou as empresas do Grupo Águia, de Abrahão, para receber as cotas mensais de patrocínio. 

De acordo com um artigo do contrato entre as duas instituições, a CBF informou à TAM que o pagamento mensal poderia ser feito na conta de uma das quatro empresas do grupo de Abrahão.

 Pelo contrato, a TAM pagaria US$ 7 milhões (o equivalente a R$ 14 milhões) por ano à confederação para patrocinar a seleção. Em fevereiro do ano passado, Teixeira viajou com Abrahão para Miami, dias antes de renunciar ao comando da CBF. 

Tuca Belotti, por sua vez, se apresenta como um dos responsáveis pelo surgimento e a transformação do marketing esportivo no Brasil. Em 2006, foi citado em matéria da revista Veja por venda de ingressos da Copa do Mundo no mercado negro, envolvendo inclusive a CBF.


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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