O bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski na
sessão desta terça-feira (26/9) no Supremo Tribunal Federal (STF) foi o
mais pesado, desde o início do julgamento do chamado mensalão. Em meio a
divergências sobre o crime de lavagem de dinheiro e interpretações
opostas àquelas apresentadas pelo relator, o voto do revisor absolveu o
ex-deputado Roberto Jefferson por essa imputação. Condenou o delator do
esquema de corrupção, contudo, pelo delito de corrupção passiva.
O
relator da ação penal 470, Joaquim Barbosa, condenou Jefferson e outros
réus do núcleo político por corrupção passiva e por lavagem de
dinheiro. Os ânimos se exaltaram no Supremo, quando o revisor começou a
absolver Emerson Palmieri, dizendo que tinha dúvidas se ele de fato
tinha recebido dinheiro proveniente do valerioduto. Absolveu o dito
tesoureiro informal do PTB das duas imputações - corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
"Ministro, eu estou trazendo minhas dúvidas;
eu gostaria de ter tantas certezas quanto vossa excelência",
impacientou-se o revisor, diante das interrupções do relator.
"Vossa
excelência não dirá a mim o que fazer, ministro", respondeu
Lewandowski, irritado, quando o relator insistiu que o revisor
distribuísse seu voto aos ministros antes da sessão.
Foi
adiante: "Quem quiser ouvir meu voto que permanesça no plenário e preste
atenção no que eu falo". Diante da afirmação de Barbosa que o revisor
estaria "medindo o voto do relator", Lewandowski chegou a se dizer
"estupefato".
Foi preciso que o presidente da Casa, ministro
Ayres Brito interferisse, pedindo que o revisor continuasse o voto.
Lewandowski respondeu: "Eu nem sei se consigo. Vou fazer um esforço".
Em
outro momento, Lewandowski citava depoimentos de testemunhas que
colocavam em dúvida se Palmieri havia recebido, de fato, o dinheiro do
valerioduto, quando Barbosa interrompeu. Mencionou os depoimentos de
Valério e Simone Vasconcelos, da SMP&B;, que confirmaram Palmieri na
lista dos que receberam propina, na visão do relator.
"Como
revisor, tenho mesmo que discordar", disse Lewandowski. "Mas isso aqui é
fato. A lista, fornecida pelo operador Marcos Valério, confirmada por
Delúbio Soares", rebateu Barbosa. O revisor se irritou: "Se vossa
excelência não admite a controvérsia, vamos pedir para abolir a figura
do revisor".
O presidente da Casa intervém mais uma vez: "Os
fatos também passam inevitavelmente pela subjetividade de quem os
analisa". "Nós, como ministros do Supremo, não podemos fazer vistas
grossas ao que consta nos autos", foi a frase de Barbosa que deixou os
ministros irritados. O ministro Marco Aurélio Melo também interferiu:
"Vamos respeitar o colega. Cuidado com as palavras. Vossa Excelência
está num colegiado de alto nível".
Fonte : Correio Web
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